terça-feira, 24 de abril de 2012

Dengue e mobilização social

Giovanni Guido Cerri e Marcos Boulos Nenhuma revolução ocorre sem grandes mobilizações sociais. Na saúde pública a participação da... thumbnail 1 summary


Giovanni Guido Cerri e Marcos Boulos

Nenhuma revolução ocorre sem grandes mobilizações sociais. Na saúde pública a participação da sociedade é particularmente fundamental, sobretudo em um sistema universal como o SUS (Sistema Único de Saúde) e especialmente em relação ao controle de doenças transmissíveis. Foi por meio de intensa mobilização social que o país organizou, a partir do modelo paulista, na década de 1990, um programa de combate ao HIV/Aids que virou modelo para a OMS (Organização Mundial de Saúde), com tratamento integral a todos os doentes.

O próprio SUS, um dos maiores projetos sociais deste país, foi construído e implantado a partir do movimento da reforma sanitária, iniciado na década de 1970, do qual participaram figuras históricas como Sérgio Arouca, Adib Jatene, José Carlos Seixas e David Capistrano, entre tantos outros. Doença tropical, a dengue atinge mais de uma centena de países em todo o mundo e representa grande preocupação das autoridades de saúde, uma vez que ainda não há vacina preventiva disponível. Com quatro variantes do vírus em circulação pelo Brasil, a possibilidade de reinfecções aumenta o risco de desenvolvimento de formas graves de dengue, como a febre hemorrágica. Desde a década de 1980 o país convive anualmente com epidemias de dengue. O Aedes aegypti, vetor da doença, encontra no clima brasileiro condições favoráveis para proliferar. Aos poucos o mosquito foi invadindo os grandes centros urbanos, contribuindo para elevar o número de suscetíveis.

Cerca de 80% dos criadouros do Aedes estão no interior das residências, em recipientes com água parada como pneus, garrafas, vasos de plantas, além de caixas d’água destampadas e calhas. Por isso a participação popular no controle da transmissibilidade da doença é tão importante. O governo de São Paulo, por meio da Secretaria de Estado da Saúde, lançou, no segundo semestre de 2011, um Plano de Intensificação das Ações de Vigilância e Controle da Dengue mobilizando prefeitos e gestores de saúde de 283 municípios paulistas considerados prioritários, definidos com base em indicadores como indicadores como série histórica de dengue, índices de infestação predial e densidade populacional.

O compromisso técnico, administrativo e político da maioria dos municípios paulistas está surtindo efeito. Nos três primeiros meses deste ano, a despeito da entrada do vírus do tipo 4 da dengue no Estado, com potencial de provocar uma epidemia de grandes proporções em razão do alto número de pessoas suscetíveis, houve 90% menos casos da doença na comparação com o mesmo período de 2011, conforme dados informados pelas secretarias municipais de saúde por intermédio do Sinan (Sistema de Informações de Agravos de Notificação). Lembrando que São Paulo é o único estado brasileiro que trabalha, primordialmente, com confirmação de dengue por diagnóstico laboratorial por meio da rede do Instituto Adolfo Lutz, instituição estadual. Os resultados parciais apontam o acerto do plano paulista, que incluiu novidades em relação às ações executadas nos anos anteriores, como apoio dos agentes da Sucen (Superintendência de Controle de Endemias) nas visitas casa a casa, não somente em ações de nebulização, capacitação dos agentes de controle de vetores, agentes comunitários e o chamado “Treinamento Express” para profissionais de saúde, no próprio local de trabalho, focando temas como manejo clínico, avaliação de risco e organização de serviços. O controle da dengue é intenso, contínuo e não pode parar nunca. No final de março, por exemplo, São Paulo promoveu uma Semana Estadual de Combate à Dengue, com atividades especiais de mobilização e alerta por todo o Estado, em parceria com as prefeituras. Contamos com o imprescindível apoio de todos os paulistas nesta batalha pela saúde pública e pela vida. 

O autor, Giovanni Guido Cerri, é médico e professor - titular da Faculdade de Medicina da USP, secretário de Estado da Saúde de São Paulo, e Marcos Boulos, médico infectologista, professor titular do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias da FMUSP, é coordenador de Controle de Doenças da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo

Fonte: JCNET
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