Giovanni
Guido Cerri e Marcos Boulos
Nenhuma
revolução ocorre sem grandes mobilizações sociais. Na saúde pública a
participação da sociedade é particularmente fundamental, sobretudo em um sistema
universal como o SUS (Sistema Único de Saúde) e especialmente em relação ao
controle de doenças transmissíveis. Foi por meio de intensa mobilização social
que o país organizou, a partir do modelo paulista, na década de 1990, um
programa de combate ao HIV/Aids que virou modelo para a OMS (Organização
Mundial de Saúde), com tratamento integral a todos os doentes.
O próprio SUS, um dos maiores projetos sociais deste país, foi construído e
implantado a partir do movimento da reforma sanitária, iniciado na década de
1970, do qual participaram figuras históricas como Sérgio Arouca, Adib Jatene,
José Carlos Seixas e David Capistrano, entre tantos outros. Doença tropical, a
dengue atinge mais de uma centena de países em todo o mundo e representa grande
preocupação das autoridades de saúde, uma vez que ainda não há vacina
preventiva disponível. Com quatro variantes do vírus em circulação pelo Brasil,
a possibilidade de reinfecções aumenta o risco de desenvolvimento de formas
graves de dengue, como a febre hemorrágica. Desde a década de 1980 o país
convive anualmente com epidemias de dengue. O Aedes aegypti, vetor da doença,
encontra no clima brasileiro condições favoráveis para proliferar. Aos poucos o
mosquito foi invadindo os grandes centros urbanos, contribuindo para elevar o
número de suscetíveis.
Cerca de 80% dos criadouros do Aedes estão no interior das residências, em
recipientes com água parada como pneus, garrafas, vasos de plantas, além de
caixas d’água destampadas e calhas. Por isso a participação popular no controle
da transmissibilidade da doença é tão importante. O governo de São Paulo, por
meio da Secretaria de Estado da Saúde, lançou, no segundo semestre de 2011, um
Plano de Intensificação das Ações de Vigilância e Controle da Dengue mobilizando
prefeitos e gestores de saúde de 283 municípios paulistas considerados
prioritários, definidos com base em indicadores como indicadores como série
histórica de dengue, índices de infestação predial e densidade populacional.
O compromisso técnico, administrativo e político da maioria dos municípios
paulistas está surtindo efeito. Nos três primeiros meses deste ano, a despeito
da entrada do vírus do tipo 4 da dengue no Estado, com potencial de provocar
uma epidemia de grandes proporções em razão do alto número de pessoas
suscetíveis, houve 90% menos casos da doença na comparação com o mesmo período
de 2011, conforme dados informados pelas secretarias municipais de saúde por
intermédio do Sinan (Sistema de Informações de Agravos de Notificação).
Lembrando que São Paulo é o único estado brasileiro que trabalha,
primordialmente, com confirmação de dengue por diagnóstico laboratorial por
meio da rede do Instituto Adolfo Lutz, instituição estadual. Os resultados
parciais apontam o acerto do plano paulista, que incluiu novidades em relação
às ações executadas nos anos anteriores, como apoio dos agentes da Sucen
(Superintendência de Controle de Endemias) nas visitas casa a casa, não somente
em ações de nebulização, capacitação dos agentes de controle de vetores, agentes
comunitários e o chamado “Treinamento Express” para profissionais de saúde, no
próprio local de trabalho, focando temas como manejo clínico, avaliação de
risco e organização de serviços. O controle da dengue é intenso, contínuo e não
pode parar nunca. No final de março, por exemplo, São Paulo promoveu uma Semana
Estadual de Combate à Dengue, com atividades especiais de mobilização e alerta
por todo o Estado, em parceria com as prefeituras. Contamos com o
imprescindível apoio de todos os paulistas nesta batalha pela saúde pública e
pela vida.
O autor, Giovanni Guido Cerri, é médico e professor - titular da Faculdade
de Medicina da USP, secretário de Estado da Saúde de São Paulo, e Marcos
Boulos, médico infectologista, professor titular do Departamento de
Moléstias Infecciosas e Parasitárias da FMUSP, é coordenador de Controle de
Doenças da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo
Fonte: JCNET
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